domingo, maio 16, 2010


Por Xico Sá . 14.05.10 - 18h40

Chá-de-sumiço

“Toda mulher, após trinta dias de felicidade sente fome e sede de desgraça. Só não irá embora se não tiver condução.” (Antônio Maria)

A frase aí acima, de autoria do meu cronista predileto, não cai aqui de pára-quedas ou epígrafe gratuita de citador profissa. Ela explica muita coisa. Repare:

Nas metrópoles gigantescas como SP, BH, Rio, Salvador, Porto Alegre, Recife, Fortaleza e outros tantos formigueiros, haja encontros e desencontros. Alguns não tão graves, acontecem; outros, infinitamente dolorosos, nos perturbam os sentidos, fazem a gente maldizer os céus, os astros, o destino, a camada de ozônio.

Fica tudo na base do “a gente se vê”… E adeus! Não que fosse acontecer um casamento ou algo do gênero a partir daquele esbarrão gostoso – nada disso, mas foram momentos bonitos, fortes, que se acabam ali mesmo, na poeira da estrada, numa tarde fria, em um café da manhã, numa simples despedida.

“A gente se vê.” Pronto, eis a senha para o terror, o “never more”, o nunca mais do corvo do Edgar A. Poe no pé do ouvido.

A gente se vê. Corta para uma multidão no viaduto do Chá, São Paulo.

A gente se vê. Corta para uma saída de estádio, um Mineirão, um Castelão, um mundão do Arruda lotado em dia de decisão do campeonato.

A gente se vê. Corta para “Onde Está Wally”.

Nada mais detestável de ouvir do que essa maldita frase. Logo depois, a porta bate e nem por milagre se abrirá para a dita figura novamente.

Jovens mancebos, evitem essa sentença mais sem graça. Raparigas em flor, esqueçam, esqueçam…

Melhor dizer logo que vai comprar cigarro, o velho king size com filtro do abandono. Melhor dizer que vai pra nunca mais. Melhor o silêncio, o telefone na caixa postal, o telefone desligado, o desprezo propriamente dito, o desprezo on the rocks.

A gente se vê uma ova. Seja homem, seja mulher de verdade, troque de palavras, use o código do bom-tom e da decência. A gente se vê é a mãe, a vovozinha, ora, ora.

Como canta o Rei Roberto, use a inteligência uma vez só, quantos idiotas vivem só…

Esse “a gente se vê” deveria ser proibido por lei. Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.

A gente se vê é pior do que “a gente se esbarra por ai”. Pior do que deixar ao acaso, que jamais abolirá a saudade, que vira uma questão de azar e sorte.

Melhor dizer logo de uma vez: “Foi bom, meu bem, mas não te quero mais”. YO NO TE QUIERO MÁS, como na camiseta mexicana que ganhei da Rita Wainer, uma ex que me aturou lindamente. Dizer foi bom meu bem e pronto, ficamos por aqui, assim é a vida, sempre mais para curta do que longa-metragem.

A gente se vê é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. A gente se vê, tô fora.

Seja homem, seja mulher, diga na lata.

Não engane a moça, que a moça é fino trato, que não merece desdém ou o quém quém do pato da Bossa Nova.

A fila anda, jogue limpo, sem essa de beque da roça para cima do futebol-arte da jovem.

A gente se vê. Corta para uma multidão no Morumbi, em busca do tetra da Libertadores.

A gente se vê. Corta para clássico no Maracanã.

A gente se vê. Corta para a São João com a Ipiranga.

A gente se vê. Corta para um engarrafamento gigante na marginal do Tietê.

A gente se vê. Corta para a Praça Castro, Alves no encontro de trios elétricos.

A gente se vê. Corta para o carnaval do Galo da Madrugada.

A gente se vê. Então aproveita e vai ver se eu estou na esquina!

....

adorei (nota da blogueira)

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