quinta-feira, abril 13, 2006

Adam* foi um sopro de vida e alegria quando surgiu na minha existência. Um cara simples, e de uma simplicidade de dar inveja a qualquer ser humano. Doce, meigo, mas muito determinado no que desejava e, mais ainda, naquilo que não queria pra si.
Surgiu num dia de sol de dezembro na minha frente. Cabelos loiros que refletiam luz como os raios de sol, olhos castanhos e misteriosos, e ao mesmo tempo curiosos e extremamente atentos. Sua pele branca e suas bochechas rosadas inspiravam qualquer ser humano a amá-lo e a querê-lo por perto sempre, ainda mesmo que não pudesse possuí-lo completamente, pois era como um cavalo selvagem que só se deixava domar quando queria.
Seu sorriso emanava algo bom, como se o dia ensolarado fosse embora junto com ele. Pacifico, mas justo. Honesto, mas generoso. Não saberia descrever a figura de um anjo, mas poderia compará-lo com a visão que tive quando o conheci.
Como disse já era dezembro e eu acabava de chegar de São Paulo. Ainda guardava lembranças boas e ruins da viagem, a maioria, porém foi resguardada com muito carinho. Desde o inicio Adam foi muito educado, gentil e amável. Não saberia pisar numa folha sem pedir licença e, às vezes, era o próprio vulcão em erupção, era difícil saber seu próximo movimento, sua próxima reação.
Ao olhar para aqueles olhos e aquele sorriso estampado todo pra mim, nem que por segundos, eu não percebi o quanto ele seria especial e essencial na minha vida, não saberia dizer que pouco tempo depois estaria vivendo com eles sentimentos que nunca havia imaginado. Na verdade mais absurda o sentimento estava ali, estava nascendo e amadurecendo, mas com certeza não era a hora certa. Teria que esperar porque a vida vem sem bula.Vem se fórmulas e sem explicação. A gente não sabe porque, mas ela acontece de um jeito torto conseguindo nos provar ao final que esta certa e perfeita, porque afinal toda coisa tem sua hora e lugar pra acontecer. A natureza é sábia e assim como a vida, nos ensina que nem sempre o tempo dela é o nosso. Alias na maioria estes tempos nunca coincidem.
Eu não sabia ainda o sentia nem o que sentiria, mas eu sabia que a companhia do Adam me fazia bem, desde a primeira vez que meus olhos pousaram nos dele. Adam não era nenhum modelo de beleza e, ainda assim conseguia ser mais belo que o mais belo dos mortais da Terra, ele fugia a qualquer padrão, o que fazia dele mais especial ainda. Nunca mais encontrei em nenhum olhar estes sentimentos como encontrei ao conhecê-lo. Apesar disso tudo e, de poder ver as coisas de outra maneira hoje, aquele momento, não era, na verdade, nosso.
Naquele mesmo dia, por obra do destino eu comecei a namorar o melhor amigo dele. Ismael** era um cara legal e extremamente carinhoso e educado, também tinha sua beleza e se encaixava dentro de um padrão, ao contrario do Adam, que tinha uma beleza especial e única.
Ismael foi paixão a primeira vista. Aconteceu o encontro de olhares, saíram as faíscas e logo depois a atração física entre nós dois. Talvez essa oportunidade tenha surgido porque, por obra do destino, Adam não estava ali e, talvez, se estivesse fosse diferente, mas não era pra ser assim, e não foi. Meses depois a relação que era doce e meiga com Ismael, foi se desgastando e se tornando insegura e perigosa pra mim.
Comecei sentir que desmoronava alguma coisa e não sabia como segurar. Como a paixão é cega fiz coisas que hoje não faria, mas que mesmo assim não me arrependo de ter feito porque sei que são nos erros que aprendemos e, onde podemos acumular nossa experiência para nossa própria sobrevivência no futuro, quando as provas serão piores e maiores e, possivelmente, ninguém estará mais no barco com você.
O fato é que este sentimento acabou virando obsessão e, logicamente tinha que virar sofrimento. E foi o que aconteceu. Mesmo com toda paixão, o relacionamento com Ismael, chegou ao fim de uma forma abrupta e violenta.Parecia uma traição ao tudo que eu senti e sentia.

Fiquei tão sem chão que cai numa depressão sem fim. No meu quarto, porta trancada e no escuro, televisão ligada eu só queria chorar e tirar todo aquele sentimento de perda e solidão que havia se instalado dentro de mim.
Não sabia se agüentaria, não sabia se sairia daquele quarto, não sabia qual seria meu próprio passo, estava sempre a espera de que o pior viesse ao meu encontro. Eu dormia chorando, quando dormia e, deixava a tv ligada pra que não ouvissem meu choro, abafado e contido, onde ao mesmo tempo buscava um alivio que não vinha de lugar nenhum.
Assim se passaram três dias. Eu só saia do quarto de madrugada e mesmo assim só conseguia tomar água. Não conseguia comer nada porque me sentia mal. Havia um gosto de fel na minha boca que nunca, ate hoje, senti daquela forma. Era o gosto amargo da solidão, da falta de chão.
Sentia me perdida e sem nenhum caminho a frente pra pisar. Era como se não enxergasse mais a luz no final do túnel. Porque afinal eu não via nem mesmo o túnel. Estava caminhando como se estivesse com uma venda dos olhos e as mãos amarradas, só me restava andar, mas eu não conseguia e então não me movia. Não sabia o que pensar porque na verdade não queria pensar, não queria a lógica muito menos a racionalidade. Eu queria sofrer tudo, até o fim, mesmo sem saber como e quando seria.
Lembro que sentia muita pena de mim mesmo. Era como estivesse frustrada e vencida. Como se todo meu amor próprio tivesse sido jogado fora e, minha auto-estima tinha simplesmente desaparecido.
Eu tinha que buscar uma força dentro de mim que pudesse me buscar deste lugar frio, sombrio e deserto onde ninguém podia entrar, só eu podia achar o caminho e a solução.
Acontece que, como por milagre, no terceiro dia, eu ouvi um estrondo e acordei com um susto. Fiquei tão atordoada com o barulho e uma gritaria que sem perceber eu abri a porta e me dirigi à varanda em outro cômodo da casa. Naquele instante, eu tinha conseguido, não sei como, achar um caminho.
Não sei até hoje como nem o que me fez abrir aquela porta e sair daquele quarto, mas eu tinha vencido qualquer força contra mim e estava ali em pé olhando o horizonte, tomando o conhecimento do que acabara de acontecer: um acidente terrível no prédio a minha frente. Um acidente que havia provocado a morte de muitos operários, mas que paradoxalmente pra mim tinha me trazido de volta à vida e, para o fim daquele pesadelo.
Naquele mesmo dia eu providencie minha mudança de quarto. Ficaria no quarto com varanda, luz e ar. Era a hora da reação àqueles sentimentos que ficaram por três dias nas paredes daquele outro quarto.
E esta, foi sem duvida, a melhor coisa que eu pude fazer. Eu mal sabia, mas o amor, estava prestes a ser descoberto a alguns metros da li, quase abaixo de mim, no apartamento de baixo do meu, no quarto de um ser divinamente chamado Adam. Era o inicio de tudo.
Na noite daquele mesmo dia em que eu consegui ver novamente a luz do sol meus olhos encontraram com o brilho do olhar novamente de Adam.
Era incrível que mesmo sem falar uma palavra se quer ele percebia que eu não estava bem, que estava meio estranha. Porém, num gesto de respeito maior que a própria curiosidade foi capaz de se calar no momento em que eu me calei, mas estava me ouvindo no momento em que eu quis falar com ele.
Era mágico. Sentia me leve perto dele. Como se eu já conhecesse aquele ser, como se ele fizesse parte de mim, uma extensão doce de minha alma. Um anjo que me tranqüilizava e me fazia esquecer de tudo por segundos ainda que sofresse um pouco, o que era normal naquele momento.
Apesar de tudo ele estava ali, ao se calar, ao me olhar, ao me ouvir sem me condenar, ao me abraçar e, sem nada falar eu sentir que ele estava me dando tudo que poderia querer e precisar naquele momento: carinho, amizade e um apoio enorme.
Eu nem me lembrava mais de qualquer vestígio de depressão ou daquela tristeza. Perto do Adam o mundo parecia diferente, parecia possível. Eu me sentia sempre bem.
Alguns dias depois eu acabei me animando para sair com ele e a turma com quem eles normalmente saiam. Adam não era um cara de altas farras, mas como todo jovem gostava de vez em quando de sair, de dançar e de conhecer pessoas e lugares, coisas normais da idade.
Fomos a um bar localizado numa parte nobre da cidade. Como um verdadeiro cavaleiro ele não me deixou sozinha um minuto se quer. Agora, com mais calma e mais tranqüila contei pra ele a história e a razão de minha tristeza. Em nenhum momento ele me condenou, muito pelo contrario. Adam possuía uma maturidade e uma racionalidade de dar inveja a qualquer um. E nos momentos em que mais precisava ter.
Eu deixava que ele falasse sem interrompê-lo e olhando nos seus olhos eu percebia aquele ar de serenidade e paz que eu jamais tinha visto em outro lugar. Somente isso naquele momento já me fazia sentir melhor.
Um destes momentos culminou em um abraço demorado onde eu não me contive e, debulhei algumas lagrimas tímidas. Eram lagrimas ainda daquele sentimento que me habitava, mas que eu já sentia que não me pertencia mais. Eu já as libertava para sempre.
Quando nos desenlaçamos eu percebi que a camiseta dele estava molhada de minhas lagrimas e, querendo disfarçar com a cabeça baixa, para ele não ver as lagrimas, ria e falava que eu tinha “babado” a camisa dele e, que teria que lavar.
Ele que não era bobo percebeu e puxou meu rosto pra cima, passou a mão nos meus olhos e me disse que aquilo ia passar, que tudo ia passar e, que eu não devia mais sofrer porque podia contar com ele.
Nossos olhares ficaram parados então se olhando como se o mundo inteiro tivesse desaparecido e, como se o chão, não existisse. Neste momento, assim sem a gente sentir, nossos lábios se tocaram pela primeira vez e meu coração tremeu.
Como uma reação imediata, senti que havia um sentimento de constrangimento no ar. Nos olhamos, ele se afastou passou a mão no cabelo e olhou pra mim dizendo que aquilo não podia acontecer porque não era certo. Não podia acontecer porque o Ismael era seu amigo e porque sentia que as coisas não estavam bem resolvidas dentro de mim.
Eu estava mais tranqüila que ele por incrível que parecesse, mas pra evitar que pudéssemos estragar tudo decidimos que em quanto eu não estivesse preparada a gente não iria repetir isso novamente. A não ser que a situação fosse outra.

Também não achava justo usar o Adam por carência ou por vingança. Ele era muito especial para mim para mim para que fosse usado desta forma. Não era justo com ele e nem comigo. Não podia embarcar em outro barco sem saber o que queria. Na naquele momento pelo menos. Não naquela noite. Não naquele instante. E ainda naquela situação fizemos um pacto. O segredo daquela noite seria guardado com a gente até que achássemos conveniente para nós.
O sentimento, entretanto estava vindo à tona, faltava muito pouco pra transparecer para todos. Todo cuidado era pouco para os olhos curiosos. A principio, para todos os efeitos, o Adam estava me dando apoio pelo término do namoro com o Ismael e era só.
Sorte nossa que todos os olhos aquela noite não presenciaram a cena do beijo. Isso simplesmente poderia ter acabado com todo o restante que estava ainda por vir.
Mas, mais uma vez a vida estava sendo sábia. E da maneira dela armou com perfeição até a luz da lua que nos iluminava, como se fossemos personagens de uma peça de teatro. Naquela noite por segundos eu voei e fui até as estrelas, me senti beijando Romeu. Eu era a Julieta. Era o sentimento mais romântico que eu pode chegar ao meu coração naquela hora. E foi tudo tão natural. Tão simples. Tão bom.
Eu não percebi, mas ali já estava começando a me apaixonar pelo Adam. Era uma porta que havia se aberto de uma forma leve e tranqüila que nem foi notada. E devagar o sentimento foi entrando novamente. Mais cedo do que imaginei eu estaria de pé. Estaria me sentindo com vida dentro de mim. O sopro de Adam me encontrava pela segunda vez. E este sopro me fez ressuscitar tudo dentro de mim. Inclusive à vontade de amar e de viver.
Ao deitar na minha cama eu já me sentia muito melhor. Mais leve, mais forte e mais feliz. Sabia que um anjo protegia meus sonhos e que cuidava de mim e, mais, que este anjo não estava no céu nem numa imagem ou quadro. Ele estava ali, dormindo a poucos metros de minha cama, um anjo vivo, de carne, osso e um enorme coração. O meu anjo Adam.

*Adam é um nome fictício para preservar a imagem desta pessoa que compartilhou de um momento especial em minha vida e hoje faz parte de minhas recordações.** Ismael é um nome fictício também.

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